Apresentação

O Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Mulheres e Relações de Gênero – GEMGe completa vinte e três anos ininterruptos de atividades, concernentes à orientação de dissertações, teses, monografias, produção de artigos, participação e realização de eventos. Dentre estas, destacam-se o Encontro Maranhense sobre Educação, Mulheres e Relações de Gênero no Cotidiano Escolar (EMEMCE) e paralelamente, o Simpósio Maranhense de Pesquisadoras (es) sobre Mulheres, Relações de Gênero e Educação (SIMPERGEN), ambos em sua décima edição em 2025. Eventos promovidos pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, por meio do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Educação, Mulheres e Relações de Gênero (GEMGe), com apoio do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Mulher, Cidadania e Relações de Gênero (NIEPEM), afiliado a Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero (REDOR).

Para esta edição, a abordagem recaiu sobre o tema Mulheres professoras nas literaturas: científicas, acadêmicas e religiosas. A motivação da escolha apresentada em 2023, no encerramento da IX edição do evento em questão, teve como mola propulsora os estudos e pesquisas desenvolvidas pelo GEMGe, e a presença de seus membros nas academias. Mas, principalmente, a necessidade de conhecermos e valorizarmos as literaturas produzidas pelas mulheres. Lembrando que o caminho percorrido por mulheres no campo da literatura foi árduo.

Até que as mulheres se tornassem escritoras e publicassem suas obras, o caminho foi marcado por reveses. A esse respeito, Telles (2006) explica que o discurso sobre a natureza feminina, formulado a partir do século XVIII e imposto à sociedade burguesa, definiu a mulher como maternal, delicada, excluindo-a do processo criativo. Tornando-se prerrogativa do homem, coube às mulheres apenas a criação e reprodução. Apesar disso, nesse mesmo período, houve um grande número de mulheres que começou a escrever e publicar, tanto na Europa quanto nas Américas. Para tal, muitas usaram pseudônimos.

No Brasil, mulheres como a educadora Nísia Floresta (1810-1885) escreveram e defenderam a educação feminina. Há outros nomes, entre os quais Maria Firmina dos Reis (1823-1917), autora de Úrsula (1859), considerado o primeiro romance de uma autora brasileira. Narcisa Amália de Campos (18521924) publicou livro de poemas, em 1870, Nebulosas, e escreveu muito em jornais como O Resendense, Diário Mercantil de São Paulo e A Família. Durante anos fez parte do corpo de redatores de O Garatuja, um outro jornal de ResendeRJ. Guiava-se por ideias europeias liberais e coloca sua pena à serviço de ideias democráticas e progressistas, da modernização das estruturas da nação e da elevação do nível cultural e material da população. (Telles, 2006)

Assim, no Brasil do século XIX, várias mulheres fundaram jornais visando esclarecer as leitoras, dar informações, chegando, ao final do período, a fazer reivindicações objetivas. Muitas vezes, esses jornais pertenciam a mulheres de classe média, algumas das quais investiram todos os seus recursos neles. Escritoras no período, como Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), autora de livros de sucesso, quando começou sua longa carreira de mais de quarenta anos como jornalista e escritora, encontrou grande oposição, mas foi adquirindo renome e prestígio. Ela participou da organização da Academia Brasileira de Letras, porém, foi excluída por ser mulher e seu marido Filinto de Almeida foi eleito membro. (Telles, 2006)

A Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897, só admitiu a primeira escritora no quadro de membros em 1977. Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ingressar na ABL, seguida por Dinah Silveira de Queiroz, em 1980, Lygia Fagundes Telles, em 1985; Nélida Piñon, em 1989; Zélia Gattai, em 2001; Ana Maria Machado, em 2003; Rosiska Darcy de Oliveira, em 2013; Fernanda Montenegro, em 2022 e Heloísa Buarque de Hollanda, em 2023; Míriam Leitão, em 2025. Delas, três foram professoras. (Fanini, 2010) (ABL, 2022).

A Academia Maranhense de Letras, fundada aos 10 dias do mês de agosto de 1908, participaram da fundação da AML 12 pessoas, a maioria composta por bacharéis das ciências jurídicas e sociais, além de alguns terem exercido a docência, atuado como jornalistas e no campo político. Da fundação até os dias atuais, as mulheres imortais da Academia foram: Laura Rosa (18841976), Mariana Luz (1871-1960), Dagmar Desterro (1925-2004), Conceição Aboud (1925-2005), Lucy Teixeira (1922-2007), Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida, Ana Luiza Almeida Ferro. Destas, sete são professoras. (Silva, 2009), (AML, 2023).

Em 2018, o Maranhão contava com 28 academias de letras, reunidas em uma federação criada em 2008. A Federação da Academia de Letras – FALMA é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, compõe-se das academias de letras, artes e afins, sediadas no estado do Maranhão. 

Cabe registrar que “mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens”. Das obras, 90% foram escritas por brancos e metade é originária do Sudeste, nos estados Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2019, brasileiros (as) mencionaram o (a) autor (a) do último livro lido e dos dezoito nomes citados, apenas quatro eram autoras, três estrangeiras, uma brasileira, também oriunda do sudeste brasileiro. (IBOPE, 2020).

Recentemente, em 10 de julho de 2025, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves foi anunciada imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Com 30 dos 31 votos, ela se tornou a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira da instituição desde a sua fundação, há 128 anos, ela disputou a posição com outros 11 intelectuais. Ana Maria foi professora de inglês e é professora de escrita criativa, passando o total de professoras da ABL de três para quatro acadêmicas.

A temática abordada na 10ª edição expressa sua relevância e atualidade, possibilitando uma reflexão teórica sobre a presença das mulheres nas literaturas científicas, acadêmicas e religiosas, como produtoras de conhecimento e arte, especialmente as mulheres professoras. Assim, dando visibilidade à participação efetiva dessas mulheres em espaços notadamente androcêntricos.

O X EMEMCE e o X SIMPERGEN têm por objetivo geral: aprofundar nossa compreensão acerca da produção das literaturas femininas, principalmente de professoras. E por objetivos específicos: Conhecer sobre o campo da produção das literaturas, os obstáculos e superações encontrados pelas mulheres; Valorizar a produção das mulheres literatas brasileiras e incorporá-las aos nossos estudos.

A X edição do EMEMCE e do SIMPERGEN articula-se às comemorações dos trinta anos do Programa de Pós-graduação em Educação, cujo corpo docente, majoritariamente feminino, contribui significativamente com as suas produções em diferentes âmbitos das literaturas.

Destaca-se, que se trata de um evento consolidado na área e possui reconhecimento nacional e internacional, haja vista que está na sua 10ª edição e constitui uma importante estratégia da UFMA no que se refere à política de internacionalização e de contribuição para a formação docente do estado do Maranhão.